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quinta-feira, 7 de junho de 2012




No grande adeus


Cerraste os olhos dos entes amados, orvalhando-lhes o rosto
inerte com as lágrimas que te corriam da ternura despedaçada, e
inquiriste, sem palavras, para onde se dirigiam no grande
silêncio.
Disseste adeus, procurando debalde aquecer-lhes as mãos
frias, desfalecentes nas tuas, e colaste neles o ouvido atento, no
peito hirto, indagando do coração prostrado a razão porque parou
de bater.
Entretanto, o vaso impassível nada pode informar, quanto à
destinação do perfume.
*
Ergue as antenas da prece, no santuário da tua alma, e
perceberás o verbo inarticulado dos que partiram...
Saberás, então, que te comungam a dor, estendendo-te as
mãos ansiosas. Arrojados à vida nova, querem dizer-te que
ressurgiram. Extasiados, perante o sol que a imortalidade lhes
apresenta, suspiram por transfundir a saudade e o amor, no cálice
da esperança, para que não desfaleças.
Libertos do cárcere em que ainda te encontras, rogam-te a paz
e conformação, para que possam, enfim, demandar a renascente
manhã que lhes acena dos cimos...
Não lhes craves nos ombros a cruz da aflição, nem lhes turves
a mente, no nevoeiro de pranto que te verte da angústia.
*
Honra-lhes a memória, abraçando os deveres que te legaram,
e ajuda-os para que avancem com a tua benção, de modo a te
prepararem lugar, na pátria comum, em que todos nos
reuniremos um dia.
São agora companheiros que te pedem fidelidade e consolo
para que te confortem, à maneira da árvore que solicita a rega da
fonte a fim de preservar-se contra a secura.
Ante o fel da separação, trabalha com paciência e confia
neles!... E quando a agonia da suposta distância te constrinja os
refolhos do espírito, deixa que eles próprios te falem ao
pensamento, sob a luz da oração.

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