Amanhã
Muitas vezes, por semana, repetimos a palavra “amanhã”.
Costumamos dizer «amanhã» para o vizinho que nos pede cooperação e
consolo.
Habitualmente relegamos para amanhã toda tarefa espinhosa.
Sempre que surge a dificuldade, pedindo maior esforço, apelamos para
amanhã.
Sem dúvida, o “amanhã” constitui luminosa esperança, com a renovação do
Sol no caminho, mas também representa o serviço que deixamos de realizar.
É da lei que a conta durma com o devedor, acordando com ele no dia
seguinte.
No instituto da reencarnação, desse modo, transportamos conosco, seja
onde for, as oportunidades do presente e os débitos do passado.
É assim que os ricos de hoje, enquistados na avareza e no egoísmo, voltarão
amanhã no martírio obscuro dos pobres, para conhecerem, de perto, as garras
do infortúnio e as duras lições da necessidade; e os pobres, envenenados de
inveja e ódio, retornarão no conforto dos ricos, a fim de saberem quanto
custam a tentação e a responsabilidade de possuir; titulados distintos do
mundo, quais sejam os magistrados e os médicos, quando menosprezam as
concessões com que o Senhor lhes galardoa o campo da inteligência, delas
fazendo instrumento de escárnio às lutas do próximo, ressurgirão no banco dos
réus e no leito dos nosocômios, de modo a experimentarem os problemas e as
angústias do povo; filhos indiferentes e ingratos tornarão como servos apagados
e humildes no lar que enlameiam, e pais insensatos e desumanos
regressarão no tronco doméstico, recolhendo nos descendentes os frutos
amargos da criminalidade e do vício que cultivaram com as próprias mãos;
mulheres enobrecidas que fogem ao ministério familiar, provocando o aborto
delituoso pela fome de prazer, reaparecerão enfermas e estéreis, tanto quanto
homens válidos e robustos, que envilecem a vida no abuso das forças
respeitáveis da natureza, ressurgirão na ribalta do mundo, carregando no
próprio corpo o desequilíbrio e a moléstia que adquiriram, invigilantes.
Não te esqueças, portanto, de que o bem é o crédito infalível no livro da
eternidade, e recorda que o «depois» será sempre a resultante do «agora».
Todo dia é tempo de renovar o destino.
Todo instante é recurso de começar o melhor.
Não deixes, assim, para amanhã o bem que possas fazer.
Faze-o hoje.
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