Renascimento
Não aguardes o lance da morte para atender, em ti mesmo, à grande
renovação.
Se a chama de tuas esperanças mais caras surge agora reduzida a pó e
cinza, aproveita os resíduos dos sonhos mortos por adubo à nova sementeira
de fé e caminha para diante, sem descrer da felicidade.
Muitos desertam do quadro escabroso em que o Céu lhes permite a
quitação com as Leis Divinas, deitando-lhe insultos, como se se retirassem de
província infernal, mas voltarão a ele, em momento oportuno, com lágrimas de
tardio arrependimento, para reajustar suas disposições, quando poupariam
larga quota de tempo se lhe buscassem compreender as lições ocultas.
Outros muitos fogem de entes amados, reprochando-lhes a conduta e
anatematizando-lhes a existência, qual se se ausentassem de desapiedados
verdugos; no entanto, voltarão, igualmente mais tarde, a tributar-lhes paciência
e carinho, a fim de curar-lhes as chagas de ignorância e ajudá-los no
pagamento de débitos escabrosos, entendendo, por fim, que teriam adquirido
enorme tesouro de experiência se lhes houvessem doado apoio e entendimento,
perdão e auxílio justo, no instante difícil em que se mostravam
desmemoriados e inconscientes.
Não deixes, assim, para amanhã o trabalho bendito da caridade que te
pede ação ainda hoje.
O caminho de angústia e a mão do insensato despontam do pretérito, cujas
dívidas precisamos solver.
Desse modo, se te não é lícito possuir esse ou aquele patrimônio que te
parece adequado à realização do mais alto ideal, faze da tela escura em que
estagias a escola da própria sublimação, e, se não podes receber, em determinada
condição, a alma que amas, no mundo, consagra-lhe mesmo assim
o melhor de teu culto, estendendo-lhe a bondade silenciosa, na bênção da
simpatia.
Não encomendes, pois, embaraços e aversões à loja do futuro, porque, a favor
de nossa própria renovação, concede-nos o Senhor, cada manhã, o Sol
renascente de cada dia.
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