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quinta-feira, 7 de junho de 2012






Corações venerados


À medida que os anos terrestres te alongam a experiência,
registras, com mais intensidade, na câmara da memória, a
presença dos que partiram.
Ah! Os mortos que te guiaram ao bom caminho!... São eles as
vozes do passado que te chegam, puras ao coração. Lembram-te
o berço perdido, junto às maternas canções que te embalavam
para o repouso, os ensinamentos do lar que te guardavam a
meninice, o carinho dos irmãos que beijavas na alegria
transparente da infância, o sorriso dos mais velhos que te
abençoavam em oração!... Falam-te dos passos cambaleantes da
idade tenra, das primeiras garatujas que traçaste na escola, dos
afetos da juventude, dos laços inolvidáveis dos quais te
despediste, chorando, na hora extrema!...
*
Não te rendas, contudo, ao desespero, se o frio da ausência
parece constituir a única resposta da vida aos anseios que te
fluem da inquietação.
Deixa que a prece te converta o espinheiral da saudade em
jardim de esperança, porque todos eles, os corações venerados
que te precederam no portal da grande sombra, aguardam-te
jubilosos, no imenso país da luz.
Entretanto, para que lhes partilhes o banquete de paz e amor,
é necessário perlustres a senda de trabalho e abnegação que te
abriram aos pés.
Abraça-lhes o exemplo de sacrifício com que te iluminou o
entendimento e pede-lhes para que te inspirem à caminhada.
Não temas, sobretudo, o avanço das horas.
O tempo que traz o inverno cinzento e triste é o mesmo que
acende os lumes e ostenta as flores da primavera.
*
A existência, no plano físico, é comparável à travessia de
grande mar.
O corpo é a embarcação.
A morte é o porto de acesso a lides renovadoras.
Tudo o que fazes segue à frente de ti, esperando-te, além, na
estação de destino.
Vive, assim, a realizar o melhor que puderes, de vez que, se
te consagras ao bem, em verdade não fugirás à passagem da
noite, mas todos aqueles que, um dia, te conduziram ao bem serte-
ão novas luzes no instante do alvorecer.

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